aparentemente, na terra mãe, as discussões não mudam muito.
de acordo com fontes multimedia a que acedo regularmente, a força política portuguesa sugere referendar o casamento homossexual.
tenho uma ou duas coisas a dizer sobre isto.
primeiro, acho que não, tal como acho que o aborto não devia ter sido referendado. Há um certo poder de decisão que não pode exercido através da força da moral e do senso-comum, pelo simples facto de que não governam nações e não se criam leis há algumas décadas com base no que diz o pensamento popular. Normalmente tem-se em conta a legislação e discussão internacional, a ciência e o contexto, unica e exclusivamente no sentido de aplicabilidade, nível de aceitação e sustentabilidade das leis.
Quando um bispo vem para a praça pública afirmar que ser homossexual "não é normal", as coisas estão graves. porque, quer a gente goste deles quer não, eles existem. e existem há muitos anos, e existem homens a ter sexo com homens, homens a ter sexo com homens e a voltar para casa para as suas esposas e filhos, homens a ter sexo com meninos, homens apaixonados por homens e, tal como uma mulher apaixonada por um homem, querem poder exercer o direito de viver juntos maritalmente.
Esta semana ouvi um catedrático a questionar um gay se ser gay era uma escolha ou uma predestinação, ao que este respondeu. ser gay não é uma escolha, tal como ser heterossexual não é uma escolha, tal como gostar de threesomes não é uma escolha, ou usar roupas de mulher à escondida não é uma escolha. É simplesmente humano, na complexidade toda que implica ser humano e perante a linha ténue que separa o normal do anormal.
há uma lei em alguns países asiáticos que condena a homossexualidade a pena de morte, quando descoberta. esta lei foi criada pelos colonizadores britânicos há duzentos anos atrás e ainda não mudou, levando a problemas socais graves de integração social e até de saúde pública, uma vez que há toda uma promoção de saúde sexual e prevenção de DSTs que não é feita porque este grupo não tem acesso aos serviços de saúde.
na irlanda, os homossexuais não poder ser dadores de sangue, porque supostamente são grupos de risco para o HIV. mas na irlanda também não se pode fazer abortos, a contracepção é para os ricos, as mulheres são ostracizadas quando não casam ou quando se divorciam e no entanto a percentagem de mães adolescentes está perto da do reino unido, o consumo de tabaco e droga aumenta a olhos vistos e o de álcool nem se fala.
há questões que só a moral justifica, e da mesma forma que alguns países muçulmanos a mulher é um ser inferior e incompreendido só porque tem um par de mamas e carece de pénis, não pode mostrar a cara, não pode votar e pode ser apedrejada na rua porque mostrou um pêlo do nariz, nos países ocidentais fazemos exactamente o mesmo com tudo o que não processamos na nossa mente pequenina.
meus caros, há uma recessão mundial, e apesar de vós achardes que é uma grande desolação perder dez por cento do salário, deixardes de comer fora uma vez por semana, ou de satisfazer os vossos desejos mais fúteis, há alguém na costa do marfim que em vez de viver com 1,25 por dia vai passar a viver com 75cent. provavelmente vai morrer, e who cares?
vamos deixar-nos de tretas mais uma vez, deixar de olhar para o sócrates e para o caso freeport como se fosse o centro do mundo e como se os tremoços de fossem acabar amanhã. o mundo vai além de elvas e da cova do vapor.
acho que não devia ser referendado.
acho que alguém se devia chegar à frente e dizer. meus caros, não há motivo válido para proibir o casamento entre homossexuais. não vai matar ninguém, mas vai chocar muitos. a mim também me choca muita coisa, but isn't life just like that?
1 comment:
A incapacidade das pessoas de se aperceberem que há todo um mundo fora delas mesmas é algo que, deveras, me causa prurido mental. A diferença é mais um padrão de normalidade do que de anormalidade e essa é que é essa. Eu não gosto de leite, será que estou gravida?
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