20090208

nunca estiveste muito perto, mas estavas sempre cá, e eu sabia sempre com as cartas que te escrevia com zero erros - sempre zero erros - que havias de estar de volta outra vez de madrugada.
e íamos ao aeroporto e eu saltava muito quando o aeroporto da portela ainda me parecia muito grandee um lugar com luzes gigantes onde as pessoas se reencontravam,. se calhar por isso é que gosto tanto de aeroportos. davas-me um abraço muito forte - eu era a mais pequenina dos três, ficava com a cara cheia de pintas vermelhas por causa da barba [ainda hoje fico] e depois íamos comer torradas e galões para uma pastelaria da joão XXI.
depois ficaste algum tempo.
ganhaste hábitos estranhos de quem viu o mundo antes dos outros todos. e ninguém te percebia quando falavas de áfrica e de todos os sítios que visitaste só porque sim. entravas-nos nos quarto às nove da manhã de sábado, e a minha irmã ripostava., tapava-se com o edredon de corações rosa verdes e amarelos e tu mesmo assim incomodava-la com um carinho imenso traduzido nas palavras 'já é quase meio-dia-ninguém dorme nesta casa!'. e ria-me que nem uma perdida, e adquiri aquela sensação que depois chamei 'sensação de sábado de manhã', que é quando estamos mesmo muito muito felizes e uma comichão agradável nos atravessa o peito, quase um estado de pós beber água quando temos muita sede.
foi assim durante algum tempo, de galochas a cortar árvores de natal - nunca te lembravas em que ano é que eu estava a estudar, mas isso nunca me pareceu importante. a fingir arranjar a bicicleta só para te imitar a ti e ao mano.
desenhaste o telhado e só acreditaram quando o montaste.
mostraste-me um bocadinho do mundo à tua maneira - dentro de uma auto-caravana a caír de podre, que sobreaqueceu nos pirenéus, ficou sem bateria no sul de frança, foi comida pelos mosquitos em espanha e quase caíu ao canal em amesterdão. ensinaste-me a guiá-la nas ruas estreitas de lisboa.
quase nunca estás perto. mas estás sempre ao pé de mim quando preciso, ainda hoje que sou eu que estou longe.
lembras.te desta música? que mostraste ao avô zé da pampilhosa da serra que tocava trompa na banda da aldeia ? ele gostou. e é por causa dele que sempre que me perguntam se prefiro beatles ou rolling stones respondo 'beatles, definitely'.

obrigada, pai
e parabéns..

1 comment:

daniel said...

fogo,
já li cenas bonitas, e esta é uma das mais bonitas dedicatórias que já li, deixa o nó na garganta a qualquer um...parabéns a ti, espero que andes bem na tua demanda...

beijoca