20070715

hinos urbano s

prestes a evadir-me pela sexta (!) vez até à minha segunda pátria (sou um bocado promíscua nisto do patriotismo, estou a alguns meses de ter uma terceira, mas é preciso é alegria de viver...), quero felicitar quem concebeu o Dance Station, que decorreu em Lisboa, no passado dia 12 de Julho. Tirando o facto de ter sido numa data memorável, que é o aniversário do membro mais caricato da família Afonso, a Carolina, foi genial a todos os níveis.
Referi irremediavelmente a Bélgica, reportando-me às Gentse Feesten (ou ao Ten Days Off, que são festividades que ocorrem em Gent durante 10 dias em Julho) que, basicamente, transformam a cidade das catedrais em catadupa numa loucura incomensurável de música, teatro, pessoas, bebedeira, batatas fritas e mais não digo.

Este tipo de festival fascina-me particularmente, na medida em que as cidades onde as pessoas vivem, estudam e trabalham se tornam palco - literalmente - de cultura e entretenimento. Existem palcos montados em cima dos canais, nas praças principais, em frente aos monumentos, onde decorrem concertos para todos (mas mesmo todos) os gostos ou desgostos musicais. Já vi espectáculos muito bons (Buena Vista Social Club, Think of One ou mesmo Mariza, em que tive de fazer a tradução literal para inglês do Lisboa Menina e Moça...) e algo medíocres (nomeadamente as espanholadas que mesmo os belgas mais alternativos acham o máximo), mas o que é mesmo indescritivelmente agradável é olhar em volta e ver amigos, conhecidos e desconhecidos a circularem freneticamente dia e noite nas ruas da cidade com um sorriso nos lábios, uma cerveja na mão (ou seis), a acarinharem aquele espaço familiar que lhes dá o dia-a-dia durante todo o ano e o prazer puro naquela semana.

O Dance Station foi uma milésima do que são as Gentse Feesten, mas mesmo assim um espectáculo digno de se ver.

Coliseu - aquele espaço magnífico para concertos, uma acústica arrepiante, arquitectura lindíssima, chão de alcatifa que faz faísca quando nele apagamos um cigarro. Comecei por ter uma caga descomunal com o lugar de estacionamento - lateral da av da liberdade, ao lado do Hard Rock - e lá fui a correr tentar ver Air.
Sublime, branco, sensual. francês 'are you rrready?', não desiludiram, apesar de um pouco apressados, talvez para ainda apanharem o resumo da Volta na edição da meia noite.

Depois de Air, a escolha entre Tiga e Fischerspooner. Hum... decidi seguir o conselho do Magau e ir até à Estação do Rossio só para ver como estavam as festas. O movimento nos Restauradores estava frenético, barulhento e deliciosamente europeu, mas o êxtase deu-se quando me deparei com uma Estação do Rossio alterada mas autêntica, imponente e trepidante, com o canadiano do boné sósia do gajo do bar da Estefânia a passar bom som. Mas não bom o suficiente para me fazer ficar, e decidi então voltar para o Coliseu, respirar novamente a cidade e as luzes cor de laranja e absorver Fischerspooner.

Foi um concerto magnífico, tirando a freak atrás de mim a tripar com um ácido qualquer e a dar-me encontrões constantes. Enfim. . O Cenário, O Som, a Dramaturgia e a Dança, os Adereços e a Atitude, we are sooo 2001, disse o vocalista antes do encore, yeah, but you're bloody good I say. Emerge foi o pico, irónico no mínimo :-). Acabei por perceber para o fim do concerto que houve mais palmelões a juntar-se a mim, e o regresso à Estação do Rossio para Chemical Brothers foi em alegre procissão. Com os palmelões e com toda a gente. Aliás, a procissão era tão unidireccional que tive realmente pena dos Space Boys, que nunca ouvi mais gordos, mas que iam tocar no Coliseu ao mesmo tempo que Chemical. Sucesso? NOT.

Chemical Brothers: sem comentários. Apesar de achar que o espectáculo proporcionado pelos Daft Punk no SW '06 tenha sido superior, a todos os níveis, e tendo em conta que nem gosto por aí além destes britânicos, o concerto foi simplesmente brutal, pelo espírito, pelas luzes, pelo ambiente em redor - aquelas paredes repletas de azulejos e impregnadas de viagens e estórias - e pelas tábuas que cobriam os carris (?). Sim, porque poupavam grande parte do trabalho de dançar, já que vibravam estupidamente com os saltos dos milhares de pessoas que as pisavam ritmicamente. O Miguel e a Rita saltaram para a berma de Cimento, nós, o resto, ficámos a ver se aquilo partia. se partisse, era o car..."#$%% armado em três actos, mas como não partiu foi do género 'épá isto um gajo só tem de mexer os braços, o resto mexe sozinho'...

Foi com uma dor de pés descomunal mas com o Risorius de Santorini (que para que
m não sabe é o músculo facial que permite sorrir) tonificado que pisei novamente o solo de Lisboa, uma Lisboa que me é tão querida há tanto tempo e que amo tanto quanto se pode amar uma cidade e andei lentamente até ao carro, ingerindo cada golfada de ar como se fosse a primeira. Até consegui ignorar os piropos dos homens do lixo e os buracos na calçada.

Lisboa, foi.

Gentse Feesten, dá-lhe gás. Já só faltas tu, Sydney.

e.

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