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no outro dia contaram-me a estória de um gajo açoreano que tinha a pancada de andar de carro. mas não era de andar de carro como a maioria de nós, quero dizer, para chegar a um determinado sítio. Este menino, YaMan de seu nome, gaba-se de já ter feito, num mês, mais quilómetros com a sua viatura na Ilha do Pico (que, convenhamos, tem cerca de 25 km de comprimento máximo), do que os seus conterrâneos residentes no continente num ano - que diariamente se deslocam na cidade de Lisboa e ocasionalmente vão até ao Norte e ao Sul de Portugal, consoante o caso.
Portanto, o YaMan viaja muito de carro mesmo, SÓ dentro da Ilha do Pico. de cada vez que vai e volta, são 50 km.
se ele diz e corrobora que tem mais quilometragem no contador do que a malta que cá anda - e fazendo as contas, assim arredondadamente , num ano, 9200 km - consegue contabilizar-se as voltinhas que ele dá num mês na bela ilha: 153. Este animal vai e vem 153 vezes de um lado ao outro da ilha POR MÊS.
completamente louco, piradíssimo dos cornos. há que salientar. há mais estórias do YaMan, mas esta é a única da qual consigo retirar alguma coisa de poético, na medida em que todas as outras são simplesmente hilariantemente estúpidas.
talvez a melhor terapia para o rapaz fosse largá-lo na 2ª circular e dar-lhe corda porque, mesmo que parasse para atestar depósito, chichis e cocós e comendo em andamento, o gajo numa semana estava em Moscovo na boa. e talvez um bocado farto de andar de carro, dirão os mais naïf.
eu cá não acredito. e agora vem a parte Grimm, que é como quem diz a moral da estória.
porque sempre que o YaMan estivesse cansado de conduzir e parasse o carro, a vontade de se sentar ao volante, ajustar o banco, o cinto de segurança, de dar à ignição e arrancar iria despoletar novamente aquele neurotransmissor desconhecido que alimenta o vício de Partir.
o gajo é maluco, sim
mas é neste nomadismo fictício que reside a metáfora explicativa da aversão ao sedentarismo dos da minha sub-espécie.
porque quem não vive sem raízes são as plantas ; nós não somos verdes, temos pés, carros, bicicletas e agora até já voamos (isto começa a assemelhar-se assustadoramente com os mais recentes anúncios a bancos).

partir,
[do you know what i mean ?]

e